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sexta-feira, 4 de junho de 2010

A rotina das folhas

Na frente da casa verde, ela estava sentada. Trajava um vestido azul claro com estampa de bolinhas brancas, cheio de renda. Logo à frente da casa havia uma praça, com ipês amarelos que aos poucos iam perdendo as folhas. O outono estava aí.
Alguém sentou ao lado dela.
- Você está sentindo esse cheiro? - Ela perguntou, sem ao menos saber quem era o rapaz louro de cabelo enrolado.
- Isso o quê? - Ele franziu o cenho, tateou os bolsos e logo retirou do mesmo um pacote de chicletes.
- Esse cheiro! Chá de hortelã... - Inspirou - vovó deve estar fazendo cookies e chá para o lanche da tarde. - Desviou os olhos para as mãos do rapaz.
- Quer um? - Ofereceu os chicletes. Ela balançou a cabeça negativamente.
- Daqui a pouco eu entro para o lanche. - Suspirou. - Eu já perguntei quem é você?
- Não.
- Quem é você então?!
- Não sei.
- Como não sabe? - Ela parecia indignada.
- Sou parte do seu sonho, parte de você, VOCÊ, deveria saber.
- Isso é um sonho? - Ela observou a sua volta, tentando reconhecer aquele lugar.
- Você anda vivendo olhando tanto pra dentro de si própria, que confunde os dois mundos.
- Como assim? - Sentia novamente o aroma de hortelã invadir suas narinas.
- Esquece, você terá que descobrir sozinha, teus desejos lhe cegam.
- E você, quem é? - Perguntou novamente, confusa.
- Já disse, sou parte de você.
Se encararam por breves minutos, e a única coisa que era ouvida era o silêncio e o vento batendo nas árvores. Ele levantou, ela também, seguiram por caminhos opostos. A menina entrou na casa verde para saborear o chá que estava tentando-a, mas ao adentrar a casa, notou que estava em seu quarto. Havia acabado de acordar com o despertador marcando 5h30. Era mesmo um sonho.
Daquele dia em diante tentou prestar atenção a sua volta, dar valor aos prazeres diários; engoliu algumas coisas, a realidade às vezes assusta, ou não tem graça alguma, mas isso não é motivo para deixar de acreditar que algo bom virá, e assim nascem os sonhos. Assim como os ipês amarelos perdem suas folhas no outono e ficam á espera de folhas novas.

3 comentários:

  1. Já fui "assim" e acho que ainda sou. As vezes esqueço totalmente da minha vida, só seguindo uma rotina para dizer que ainda existo.
    Aí as vezes você acorda e se dá conta de quanto tempo passou e quanto as folhas já ficaram amareladas e caíram...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Simplesmente adorei o texto. Você escreve muito bem. Parabéns!
    Já estou seguindo. Quando tiver um tempo, passe no meu e dê uma olhada. Espero que lhe agrade tanto quando o teu me agradou.
    beijos:*

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