Início

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Exceção

Ex.ce.ção
1. ato ou efeito de excetuar.
2. o que não se submete à regra.
3. desvio da regra geral (comum).
4. privilégio.

Luzes de todas as formas enfeitavam as casas, era início de Dezembro. Onze e meia da manhã e as crianças da escola primária descobriam qual seria seu dever de casa.
- Então crianças, quero que tragam algo que para vocês é importante. Uma fotografia, um brinquedo... Para segunda-feira!
Concordaram apressadamente, finalmente havia chegado o final de semana, estavam eufóricos para ir embora.
Anna despediu-se dos colegas e desceu a rua a caminho de casa. Gostava da decoração de natal, mas não via muito sentido em tal comemoração. Por vezes pedia explicação aos adultos sobre a data, mas nunca correspondia ao que as pessoas praticavam.
Ao entrar em casa, passou pela cozinha, o aroma do almoço inundou suas narinas. Caminhou até seu quarto, deixou sua mochila e vestiu uma roupa mais confortável. Ao voltar sua mãe esperava-lhe com sua comida já no prato. Não que gostasse de tanta mordomia, apenas era dia de seu pai almoçar em casa também.
O dia transcorreu rápido. A noite ela leu seu exemplar de "O Guia do Mochileiro das Galáxias" e tomou seu habitual chocolate quente. Nunca tivera dificuldade em adormecer, porém esta noite, algo tinia em sua cabeça, como um mosquitinho. Estava preocupada com sua tarefa. Tinha o que levar; livros, objetos nonsenses, era uma verdadeira guarda-tralhas. Mas nada que lhe bastasse.
As 2h30 da manhã ela ouviu um miado baixinho, pensou ser coisa de sua cabeça... Até ouvi-lo novamente. Levantou silenciosamente e seguiu o barulho. Vinha do jardim. Abriu a porta cautelosamente para não despertar seus pais.
Estava demasiadamente escuro, mesmo com as luzes de natal. As árvores formavam sombras sinistras. Depois de alguns minutos procurando, notou uma caixinha entreaberta atrás do Ipê amarelo. Deu alguns passos até o pacote, espiou e finalmente o abriu.
O gatinho branco estendeu-lhe a patinha, como se fosse pegar o dedo da menina, certamente queria brincar. Levou-o para casa na caixa ainda. Não iria contar a sua família ainda. A casa era grande, ele poderia ficar no porão.
O final de semana passou muito rápido. Anna brincou, leu, assistiu seu filme favorito diversas vezes e dormiu bastante.
Chegara segunda-feira, o dever de casa seria corrigido na segunda aula. Chegado o momento a professora escolheu os alunos aleatoriamente para virem á lousa.
- Eu trouxe uma fotografia do meu pai. Não o vejo a três anos. - Afirmou Gabriel, um garoto de cabelos cacheados e ar angelical.
Sucederam-se algumas revelações, e finalmente chegou a vez de Anna. Ela foi a frente com sua mochila. Logo todos notaram um gatinho com a cabeça para fora da mochila. Quietinho, como se soubesse que aquele momento era importante para a menina.
- Esse é o Caolho. Encontrei-o no jardim. Ele tornou-se meu novo amigo.
- Mas ele é horrível! - Exclamou uma das meninas. Aturdida ao notar que o gatinho tinha um olho machucado.
- Ora, ele não é horrível. É diferente.
Um silêncio constrangedor inundou a sala.
Anna pigarreou e logo começou um discurso. Sua voz era suave e sincera.
- Se ele fosse igual aos outros gatinhos, vocês se lembrariam dele no futuro? Quantas pessoas comuns vocês se lembram? As pessoas diferentes fizeram história. Pessoas que foram elas mesmas ficaram na memória. Seja de maneira positiva ou negativa. E com o Caolho não é diferente. Puxa vida, ele pode ser diferente, mas não deixa de ser especial. - Umedeceu os lábios, vomitara as palavras.
Naquele momento ninguém se manifestou. Ela voltou para sua carteira um bocado triste. Queria provar para as pessoas que são as diferenças que nos tornam especiais. Porém, no final da aula, alguns colegas vieram brincar com o gatinho. Seu esforço não havia sido em vão.


Ps: Dedico esse conto á @pequenatiss (http://naomefazsorrir.blogspot.com/). Ele veio á minha cabeça após uma conversa com ela.

3 comentários:

  1. Que lindo, Lana. Estou sem palavras! É lindo... Lindo mesmo! Não é porque uma pessoa é diferente que ela vai deixar de ser menos especial. E, o diferente às vezes é até mais especial. Isso me lembrou a história do gatinho que apareceu aqui no quintal ontem que eu contei no MSN pra ti. E esse gato é lindo! *-*

    Obrigada de novo pelo vídeo e por esse texto maravilhoso. Ninguém nunca tinha me dedicado um texto. Adoro-te. Adoro-te! <3

    ResponderExcluir
  2. Oh, Lana. Esse foi o seu texto mais bonito, de longe. Digo bonito no sentido sentimental. Quantas vezes não somos um gatinho caolho por aí?

    E, oh, Tiss, te adoro, mocinha!

    ResponderExcluir