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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tumor

Quando eu era pequena, minha vó apresentou-me uma coisa chamada medo. Toda vez que eu ia pra longe, ela falava que do escuro ia sair um bicho enorme e me pegar. Depois, eu contava a minha mãe, e ela desmentia e cantava pra eu dormir. Na adolescência ele se apresentou a mim com calma, disfarçadamente. Eu o abriguei, queria sentir-me amada novamente, como mamãe me fazia. Mas acontece que quando eu precisava de consolo, ninguém mais estava lá. E o medo foi crescendo, e ele passou por mim muitas vezes, tantas que se alojou no meu peito e virou um tumor (maligno). Hoje ele me corrompe, e eu tento livrar-me dele, mas ele se alimenta tão facilmente de pequenas situações. E eu me entrego. Outro dia resolvi ter uma conversa com a mamãe sobre isso, e ela disse que o amor é um bom remédio. Mas hoje em dia eu não o vejo mais.
Talvez algumas pessoas tenham este tumor também, o que não é nada agradável de se pensar. Talvez a gente morra. Não morrer mesmo. Mas morrer por dentro. E só existir... existir... existir.

5 comentários:

  1. Que texto lindo. Não se acho sombrio ou delicado. E ótimo analogia! :)

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  2. eu achei super delicado tbm.
    mas eu conheço como pode ser apavorante olhar pra baixo da cama no escuro.

    bjs, segui e voltarei sempre

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  3. Vou te contar um segredo. Esses dias estive pensando muito em monstros reais e surreais. Monstros podem ser bons maus, podem machucar e curar, depende. O amor é um monstro. O medo é outro. Mas uma coisa é certa: todos assustam e nos deixam insones.

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  4. Belo texto, e a difícil tarefa é termos forças suficientes para controlar esse monstro, e não deixar que ele nos controle.

    Adorei o blog, estou seguindo =D

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  5. Lana, que blog lindo! Fiquei bem a vontade com seus textos. Virei aqui sempre que preguiça me faltar.

    beijos da @ethaiss

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