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terça-feira, 25 de outubro de 2016

diálogos desconexos de duas pessoas que ainda estão conectadas


gatos vira-latas subindo a ladeira de casa. o sol escaldante de almas desérticas. prosa poética cabe em uma xícara de chá? estamos surdos por causa das buzinas no trânsito infernal de são paulo. axilas úmidas, testa brilhando, pequeno ataque cardíaco ao te encontrar subindo e descendo a francisco glicério em busca de um hamburguer de soja. desvio o olhar - ainda não perdi esse hábito -, tua boca deve estar úmida.
inaugurei meu apartamento semana passada, minhas costas têm 40 anos, só dancei por 15 minutos. que dia é hoje? setembro não chove, agosto passou muito rápido. há quantos anos não nos vemos. você juntou as tralhas, mrs duas caras? deve estar ouvindo norah jones todos os dias.
meu relógio quebrou, o ônibus 600 ainda passa por aqui? mas espera aí, você mal falou de você. preciso ir, parar no próximo bar para vomitar pensamentos em um guardanapo sujo, mais sujo que a minha mão que segura o corrimão do ônibus, o salgado, amarra o sapato e depois rói as unhas cheias de bactérias. preciso beber cerveja glacial que continua sendo barata assim como eu continuo sendo pobre. hoje é terça-feira, detesto terças-feiras. estamos falando demais - ainda não perdemos esse hábito.
até logo, me telefona quando puder, a gente toma um café. pode ser um chá? não temos mais tempo para prosas poéticas. minha gastrite não me deixa. continuo vomitando, mas venci a depressão. você não está entendendo nada do que eu digo, eu quero ir embora.
aperto de mão leve para disfarçar um coração apertado. nossa ligação é um axioma. teu tênis de andar de skate faz barulho no asfalto. ou esse barulho vem do meu coração? (ou do estômago?)

[escrito em algum dia do final do ano passado]

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